• May 02, 2025
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Na Quinta do João: Um mergulho nos vinhos de baixa intervenção em Vila Verde

Na Quinta do João: Um mergulho nos vinhos de baixa intervenção em Vila Verde

Visitámos a Quinta do Espigueiro Grande, onde o enólogo João Fernandes nos recebe com saber, vinho no copo e muito respeito pela natureza.


Há visitas que marcam. E esta, à Quinta do Espigueiro Grande, foi daquelas que nos lembram porque nos apaixonamos pelo mundo do vinho. A paisagem de Vila Verde, na região de Cisão, já anuncia que estamos num lugar especial. Mas é quando João Fernandes nos recebe — sorriso largo, esbanjando simpatia e já com as taças de prova nas mãos — que percebemos: aqui o vinho fala com alma.

João é daqueles produtores que sabem tudo sobre o campo, mas não fazem alarde. Fala com simplicidade sobre o seu trabalho, mas os olhos brilham quando o tema é fermentação espontânea ou barricas de castanho português. "O vinho bom começa na vinha, mas é na cave que ele conta a sua história", diz-nos enquanto conversamos sobre os Loureiros que acompanham desde os primeiros brotos.

Apesar de ser agrónomo de formação e acompanhar de perto todo o ciclo das uvas, as vinhas que dão origem aos vinhos Cisacasão não se encontram na Quinta do Espigueiro Grande. Estão plantadas noutro local próximo, em terrenos de um produtor parceiro da confiança de João.

A filosofia da Quinta é clara: mínima intervenção, máximo respeito pelo terroir. Nada de aditivos desnecessários, leveduras selecionadas ou correções de acidez. Aqui, o vinho fermenta com o que a natureza dá — e o resultado é pura expressão.

João explicou-nos como a levedura indígena, presente na própria casca das uvas, é a grande responsável pela identidade dos seus vinhos. "Cada ano é diferente, cada colheita tem o seu carácter. O meu trabalho é não atrapalhar", brinca.

Outro detalhe encantador: o uso de barricas de castanho português, uma prática ancestral que ele resgata com orgulho. "O castanho respeita mais o vinho do que o carvalho americano ou francês. Dá estrutura, mas não impõe sabor."

Provámos dois rótulos que estão prestes a chegar ao mercado: o Cisacasão Escolha 2023, com a sua frescura vibrante, notas florais e um toque cítrico elegante; e o Cisacasão Reserva 2023, com mais estrutura, profundidade e um final mineral que promete evoluir lindamente em garrafa.

No fim da visita, a sensação é clara: não se trata apenas de vinho. Trata-se de território, de memória, de autenticidade. E de gente como o João, que faz vinho como quem conta histórias — com verdade e propósito.

Para quem procura vinhos de baixa intervenção com identidade portuguesa, esta Quinta em Vila Verde é uma paragem obrigatória. A Quinta é aberta a visitas e eventos que podem ser agendados com antecedência.

O futuro do vinho pode até ser tecnológico, mas aqui, no coração do Minho, ele continua humano.